quarta-feira, 21 de abril de 2010

A religião, o Estado e a ideologia

Camilo José Cela foi um excelente escritor. O facto de ter sido um apoiante da ditadura de Franco, primeiro lutou no exército nacionalista e depois teve o emprego de censor, não diminui o seu mérito literário. Mas o seu nome ficará sempre ligado não apenas às suas qualidades literárias, que o levaram a ganhar um Nobel, mas também ao seu posicionamento político.

Numa escola espanhola, com o nome de Instituto Camilo José Cela, uma estudante muçulmana, de 16 anos, decidiu começar a usar lenço a cobrir o cabelo. O Conselho da Escola proibiu-a de frequentar assim as aulas, tendo esta deixado de assistir às mesmas. O governo socialista de Zapatero opõe-se à decisão da escola, mas o governo regional de Madrid, liderado pelo Partido Popular, apoia a proibição.

Percebe-se então que o nome do colégio não remete apenas para um grande escritor, mas também para um posicionamento ideológico. É que os nomes contam.

E se os nomes contam, porque é que o Estado Português insiste em dar nomes religiosos a bens públicos? Da ponte de S. João, no Porto, ao futuro Hospital de Todos os Santos, Em Lisboa, por todo o país vemos as autarquias e o governo a atribuírem nomes religiosos às estruturas públicas.

Dir-se-á que se escolhem nomes que sejam relevantes para a maioria da população. Pois claro, mas quando se escolhe um nome com conotações religiosas ou ideológicas temos de ter presente que se está a fazer uma opção com significado ao nível dos valores das pessoas - e algumas vão sentir-se excluídas por essa opção.