sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Leituras de férias




Não tenho por hábito ler programas eleitorais, mas este ano que o seu lançamento coincidiu com um período de férias em que me muni parcamente de leituras, admito que até pode ser um exercício quase tão relaxante como os 'Patinhas' que a minha mãe só me deixava ler na praia.

Depois de uma passagem pelos panfletos do BE, que recomendo para quem gosta de BD barata no universo do fantástico, com propostas tão assertivas como irrazoáveis, como seja a política de nacionalizações em massa, chega o tão ansiado volume do PSD, que só peca mesmo por não ter bonecos.
E não os tem porque os bonecos somos nós. Bonecos que eles prometem emancipar do Estado, para depois poderem acabar, sem remorsos, com o papel do Estado num desenvolvimento económico e social mais justo. Daí o novo conceito de 'desenvolvimento económico, social e pessoal'. Formem-se e enriqueçam-se pessoalmente os que podem - sim, que além do conceito, não encontro lá nada de concreto para a sua implementação e muito menos para a sua generalização -, que o Estado não está cá para sustentar malandros.
Não está mal pensado, mas podiam ter feito melhor. Bem dizia o meu professor da primária que o uso abusivo de advérbios de modo denota pobreza de ideias. Do positivamente ao intoleravelmente, designadamente, estão lá muitos.
Mas, em abono da verdade, eles avisaram.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A campanha e os homens do Presidente

O PS cometeu dois erros nesta polémica, ambos com benefícios eleitorais para o PSD:

1) ter feito a acusação de que assessores da Presidência estavam a colaborar na elaboração do programa do PSD;

2) ter-se deixado arrastar para uma discussão sobre se os assessors estão ou não a ser vigiados, exigindo que Cavaco se pronuncie sobre o assunto.

O primeiro erro foi tentar associar a Presidência da República à campanha do PSD.

A associação do PSD à Presidência pode levar alguns eleitores do centro (que votaram em Cavaco nas eleições presidenciais) a pensar que o PSD não está tão descridibilizado como parece, pois até tem o apoio da equipa de Belém e talvez do próprio Presidente. Talvez considerassem abster-se, ou até votar num outro partido (CDS, PS ou até no MEP), mas poderão pensar que se o Cavaco apoia o PSD é porque essa é a melhor escolha.

A associação Cavaco-PSD é uma estratégia que poderá (e deverá) ser utilizada nas eleições presidenciais, pois é negativa para Cavaco Silva, mas para o PSD de Manuela Ferreira Leite é uma boa ajuda.

O segundo erro é persistir na polémica com a Presidência, dando a ideia de que esta está meesmo em guerra com o Governo. Mais uma vez, prejudica Cavaco, mas beneficia o PSD.

Sócrates esteve bem, a desvalorizar a polémica como uma brincadeira de Verão, mas alguns correligionários não foram capazes de se conter. O PSD agradece.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sem plano B para o partido nem plano A para o país.

Como num jogo de póker, Manuela Ferreira Leite pôs as fichas todas na mesa, mas não mostra o jogo. Espera que lhe dêem a vitória sem ter de o mostrar, pois se for obrigada a isso sabe que perderá.
Penso que o discurso acerca da "Verdade" é sincero, pois a sua formação católica ainda ancora em conceitos pré-modernos. Daí usar expressões como "a finalidade do casamento é a procriação" ou falar de "um apelo à humanidade para mudar de caminho, baseado na caridade".
Para ser fiel a si mesma, à sua ideia de "Verdade", teria de clarificar as suas posições: explicar porque é que considera que o salário mínimo devia ser mais baixo (sim, porque se opôs ao seu aumento), dizer-nos que pretende privatizar (ou será piratear?) parte da segurança social, acabar com a gratuitidade do Sistema Nacional de Saúde, etc.
Assim, mais vale não falar, não apresentar propostas. Cada vez que o fizer estará a perder votos e isso agora é tudo o que conta.

Os moços fizeram um 31

Convenhamos, a coisa até teve piada. Foi um acto subversivo feito com inteligência e humor.
Ainda bem que não vivemos numa monarquia, senão os rapazes ainda passavam uns bons anos na prisão, que as monarquias costumam ser muito sequiosas dos seus símbolos.
Acho que têm pouco sentido de humor...
Felizmente para nós, a causa monárquica portuguesa tem muito mais piada.
Entre um pretendente ao trono que é uma piada viva e um partido monárquico cujo presidente... "Presidente"? Mas o partido monárquico é chefiado por um "presidente"? Ficava-lhe melhor um rei!
Enfim, o "presidente" do tal partido monárquico diz que o pretendente ao trono é um usurpador, o seu primo é que devia ser rei.
Talvez a disputa se pudesse resolver num duelo, com espadas de pau para não se magoarem. Seria um duelo só a brincar, como esta história de restaurar a monarquia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ele sai. E ela?



Já terá cumprido a sua missão moral ou ainda vamos ter mais publicidade gratuita ao Freeport às 6as feiras?

Da renovação na política - worst practices


Concordo com aqueles que defendem que a renovação da vida política contribui para alargar e enriquecer o nosso espaço público e entendo que a política não pode ser só razão, tem também que mobilizar paixões em torno de projectos democráticos de futuro. Envolver as pessoas, convidá-las a participar, co-responsabilizá-las na resposta aos desafios comuns. Não basta ouvir...
Se alguém me conseguir explicar de que forma as listas do PSD para as legislativas contribuem para a dita renovação, agradeço. Talvez devamos começar por nos entender sobre o significado da palavra 'renovação'. É renovar trazendo caras novas e políticos mais novos/jovens ou apenas renovar mandatos e púlpitos a quem já anda na política há muitos anos?
Continuamos a política de verdade ou rendemo-nos aos sempiternos sectarismos e gregarismos que caracterizam a política portuguesa?
Com tamanha renovação, pergunto-me que papel está reservado, em caso de vitória, para as ordes de defensores de Manuela Ferreira Leite, que todos os dias dão um ar da sua graça na blogosfera.
A escolha ainda é nossa.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ouviram os portugueses?

Os cartazes do PSD com o tema "Ouvimos os portugueses" são uma de duas coisas: a demonstração do vazio político em que se encontra o PSD ou a confissão de que habitualmente os seus procedimentos são tudo menos correctos.

A minha memória reteve três frases: "Prometam só o que podem cumprir" (que pretende justificar o atraso no programa eleitoral e a ausência de propostas concretas), "Façam política com as pessoas" e "Olhem por quem mais precisa".

A primeira hipótese, a de que os cartazes demonstram o vazio político, deve-se ao facto de as frases nada dizerem. As mensagens são absolutamente óbvias e banais, pois podiam ser ditas por qualquer político, de esquerda ou de direita, pois são aspirações gerais.

A questão prende-se em como concretizar essas aspirações gerais, como é que se vai dar resposta a pedidos como "Olhem por quem mais precisa". Isso o PSD omite. Mas Manuela Ferreira Leite já nos esclareceu na sua crónica do Expresso de 11 de Julho, intitulada "Caridade na Verdade", em que elogiando o Papa, fala de "um apelo à humanidade para mudar de caminho, baseado na caridade, na verdade, como forma de atingir metas ao alcance dos homens." Pois bem, o PSD vai olhar para quem mais precisa através da caridade.

A segunda hipótese, a de que o PSD está a confessar que as suas práticas habituais são condenáveis torna-se evidente quando se questiona porque é que essas frases parecem ter algum conteúdo para o PSD: só se antes não faziam as coisas assim.

"Prometam só o que podem cumprir". Porquê? Antes prometiam coisas que sabiam que não cumpririam? "Façam política com as pessoas". Porquê? Antes não o faziam?

Isaltino condenado, mas outros acusados a caminho da AR

Isaltino Morais foi condenado a sete anos de prisão efectiva e perda de mandato. Irá recorrer, obviamente, o que fará com que a sentença, a ser confirmada, só o será daqui a alguns anos. Mas mais do que a decisão judicial, que não transitou em julgado e que me abstenho de comentar, importa pensar nas consequências políticas.

Desde logo, para o próprio. Isaltino não tem condições políticas para permanecer na política activa, pelo que se deve demitir e não se candidatar às próximas eleições. O PSD esfregaria as mãos de contente, porque recuperaria a Câmara de Oeiras. A bem da democracia, é isso que deveria acontecer, pois a democracia não é apenas eleições, é também respeito pelos cidadãos e pelos órgãos de soberania, neste caso da justiça.

Para o PSD a decisão não podia ter ocorrido em pior altura, mas por responsabilidades próprias. É que esta direcção do PSD não só não deu seguimento à proposta feita pelo próprio partido nos tempos da liderança de Marques Mendes, que proibiria a candidatura de pessoas acusadas por crimes exercidos durante os seus mandatos, como ainda por cima incluiu nas listas de deputados António Preto e Helena Lopes da Costa, ambos acusados em processos-crime.

Manuela Ferreira Leite tem agora de resolver o problema. A primeira hipótese seria excluindo esses candidatos das listas. Mas como é que justificaria essa exclusão? Se fosse consequente com o seu discurso moralista implícito no slogan "Política de verdade", teria de assumir que essa exclusão era apenas porque as pessoas tinham reparado na inclusão desses candidatos e ela tinha medo de perder votos com isso.

Mas para todas as coisas há sempre alternativa. Podem ser os candidatos a auto-excluirem-se, evitando que tenha de ser a líder a fazê-lo. Querem apostar que é isto que vai acontecer?

Mas mesmo assim, valerá a pena perguntar a Manuela Ferreira Leite porque é que escolheu esses candidatos.