domingo, 29 de novembro de 2009

Depressão nacional insustentável

Encontre-se uma fórmula atractiva para a economia, a sociedade e o ambiente, junte-se uma personalidade sorridente, rodeada de famosos, jovens e anciãos também eles sorridentes, a apresentar um conjunto de medidas 'revolucionárias' e aí temos o milagre da resposta contra uma crise cuja face mais visível são 3,6 milhões de pessoas sem emprego.
Zapatero apresentou esta semana a 'Ley de Economia Sostenible', politicamente correcta, à primeira vista ambiciosa, mas que, segundo economistas de todos os quadrantes, não faz mais do que recorrer à cosmética para desviar as atenções dos verdadeiros problemas da economia espanhola.
É curioso notar que algumas das medidas foram bandeiras concretizadas do anterior Governo, como sejam a criação de empresas num dia (em Portugal faz-se em menos de uma hora), apoio às energias renováveis ou reformas no mercado de trabalho.
Tem razão o Primeiro Ministro quando diz que os Portugueses estão pouco atentos ao que se passa no seu próprio País. Percebo que a sabedoria popular leve quase sempre a melhor, ou não fosse a galinha da vizinha melhor que a minha; percebo menos bem o que já se vai tornando uma depressão nacional insustentável.

Ainda a Europa e a democracia

De todos os comentários, na sua grande maioria pouco abonatórios, às escolhas dos líderes europeus para presidir ao Conselho Europeu e ao que será uma espécie de Ministério dos Negócios Estrangeiros europeu, penso que deveríamos reter essencialmente 3 ideias:
1. que o Directório dos Grandes (Alemanha, França e Reino-Unido) impôs as suas escolhas cozinhadas em petit comité sob a égide dos arautos da transparência, a Presidência sueca;
2. que, com a escolha de personagens desconhecidas da maioria dos Europeus, se procurou acima de tudo preservar o poder dos Estados, contra qualquer deriva federalista de instituições com demasiada personalidade;
3. que, e pode parecer uma contradição, se acabaram por reforçar as duas instituições por natureza mais comunitárias da UE, ou seja, a Comissão e o Parlamento. O Presidente da Comissão fica sem figura que lhe faça sombra, tanto a nível interno, como externo. Já o Parlamento, ou os partidos que o compõem, conseguiram impor a partilha de poder entre esquerda e direita nos 3 'altos cargos'.
Ou seja, há um Directório de Países grandes no seio da UE que continuará a tentar impor as suas escolhas, em matéria de personalidades e de políticas. Mas, em última instância, quando o Directório não estiver de acordo, haverá margem para as instituições mais comunitárias agirem. E é sobre elas e as suas propostas que deve incidir cada vez mais o nosso escrutínio, apesar das contingências inerentes ao facto de uma delas, a Comissão, não ser directamente eleita pelos cidadãos, e a outra, o Parlamento, ser composta por deputados que elegemos, mas que estão inseridos em grupos políticos europeus cujas dinâmicas são pouco claras.
Temos portanto um processo de integração europeia em constante reconstrução com moldes que não são os das democracias nacionais e com enorme potencial de auto-regulação. E ou nos começamos a interessar mais e a influenciar mais o que se passa lá longe em Bruxelas, ou caímos na armadilha da legitmidade democrática de uma Comissão que dirá não fazer mais que responder aos desejos dos Europeus e de um Parlamento que se foi reforçando sob a bandeira de uma legitimidade democrática que diz encarnar.
Enquanto esperamos pela cidadania europeia, acho que devemos dar uma oportunidade a Van Rompuy e a Catherine Ashton.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Frase do dia

Ouvi na rádio que à porta de uma igreja está pendurado um cartaz com a seguinte mensagem:

«As reuniões do Grupo para a Recuperação da Auto-confiança realizam-se às sextas-feiras, às 8 horas da noite.
Por favor, entrem pela porta das traseiras.»


Não percebi em que igreja é que o cartaz está pendurado, nem sequer se essa igreja é no nosso país. Mas que ilustra a situação que aqui se vive, não tenho a menor dúvida.

Numa altura em que precisávamos de recuperar a esperança, acreditar que a situação económica e social pode mudar, surge-nos mais um caso de suspeição sobre o primeiro-ministro.

A entrada em vigor de um novo governo, que até começou bem, não tendo pejo em corrigir algumas opções do anterior (alargamento das condições para receber o subsídio de desemprego, fim das taxas moderadoras nos internamentos e cirurgias, ...), era uma excelente oportunidade para acreditar num novo impulso.

Mas, com um segredo de justiça esburacado, um primeiro-ministro com amigos pouco recomendáveis, uma comunicação social baseada em fontes anónimas e em rumores não confirmados e uma sociedade civil desconfiada e pronta a fazer julgamentos sumários, o novo impulso esfuma-se no éter.

Precisávamos de recuperar a auto-confiança, mas afinal temos de entrar pela porta das traseiras...