O discurso da culpa colectiva, uma das formas mais primárias de criar carneiros submissos e combater as temíveis pulsões do mal absoluto, entrou na nossa sociedade sem grande esforço.
Nós, Portugueses, nos confessamos. Mentimos e acreditámos em mentiras.
Há vergonha no Partido Socialista. Tímido, senão incapaz de defender uma herança que em várias áreas seria expectável vê-lo assumir orgulhosamente como sua (foi também assim com a de António Guterres), torna-se presa fácil dentro da narrativa.
Agora, sempre que vier defender uma medida com resultados positivos, o Governo puxará a carta do despesismo, da derrapagem das contas. Todos nós sabemos fazer isso. Basta que, ao considerar um orçamento (que é uma previsão), se incluam todos e mais alguns custos associados. Resultado: derrapagem sobre derrapagem.
Ainda não ouvi ninguém vir recordar os princípios que estiveram na origem do investimento na reabilitação das escolas, por exemplo. Foi keynesianismo? Foi. Qual era o objectivo? Era relançar a economia. Sim, houve um tempo em que a Europa ainda se preocupava com o relançamento da sua economia a curto prazo. Por isso acordou, quando a crise se tornou mais ameaçadora, um programa de relançamento da economia. Em Portugal, as medidas incluíam a requalificação das escolas. Havia procura. Foram mobilizados fundos europeus para esse fim. Era a redistribuição europeia a funcionar. Os resultados seriam quase imediatos, tanto para a qualidade do ambiente de ensino, como para o crescimento e o emprego.
Erros de governação haverá sempre, mas reduzi-los ao estilo de um homem é risível. A incontornável margem de erro não pode impedir decisões e os políticos são eleitos para tomar decisões. Reduzir uma decisão política a uma mera operação contabilística é esvaziá-la da sua essência.
Para tecnocracias, já nos bastaram 10 anos de governação cavaquista.