segunda-feira, 19 de março de 2012

Bem-vindos à narrativa

Diz-nos o dicionário que uma narrativa é um relato de acontecimentos que remetem para o conhecimento do homem e das suas realidades. É uma história, real ou imaginária, que pode ganhar contornos de romance, novela, conto ou epopeia.

São elementos básicos da narrativa: narrador, acção, cenário (realista ou fantástico) e personagens, distribuídas em diferentes categorias (protagonista ou herói; antagonista ou vilão, figurantes) e geralmente divididas entre o bem e o mal.

Palavra presente no nosso quotidiano pela mão dos livros, a narrativa fez erupção na nossa vida política, importada de fora, como tudo o que tem popularidade garantida em Portugal.

De repente, só se fala em narrativa. É o Primeiro Ministro, é o Ministro das Finanças, o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Todos nos dizem que temos que alterar a narrativa. A comunicação social difunde. Só nós é que não vemos, por estarmos tão embrenhados nela, que a narrativa já não é uma história, é a nossa triste realidade.

Lembram-se das aulas de Português? Da dificuldade que por vezes tínhamos em qualificar de aberta ou fechada a narrativa? Pois bem, esta é fácil. Atiraram-nos para uma narrativa fechada, com final anunciado.

Sabe-se que no final haverá vencedores e vencidos. É fácil antecipar quais serão uns e outros. O País será o grande vencido. Vencerão os afortunados da Providência divina, contra o parasitismo instalado. Na verdade, são tão parasitas quanto aqueles que acusam de parasitismo do Estado-pai, os únicos parasitas possíveis de um Estado mínimo. Os outros, os que beneficiavam da indevida segurança do Estado Providência, esses já estão mais do que vencidos, e não é só pelos cortes nos ‘privilégios’, é por esta desesperança no futuro.

A teia, a narrativa, pois que é essa a palavra da moda neste início de década, está montada. As personagens e o décor estão definidos. Só não sabemos se será uma mini-série, se uma longa-metragem. Tudo dependerá da capacidade das personagens de resistir às regras. Era preciso que personagens vilãs se tornassem boazinhas no decorrer da narrativa, passasem do mal ao bem. Haverá alguma capaz desse volte-face?

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