Compõem esta narrativa algumas premissas irrefutáveis.
Citando apenas algumas delas:
i. a culpa, que em primeira instância é do Sócrates, mas que na realidade é de todos nós, uma culpa colectiva, cheia de pecados originais, que agora devemos expiar apenas e só pela via do sacrifício e da clemência perante a troika;
ii. a certeza, ex post – obviamente, todos estes vaticínios e oráculos são ex post - de que andámos a viver acima das nossas possibilidades;
iii. a modernização do País reduzida a má gestão das contas públicas e despesismo (ou, se preferirem, megalomania e obsessão do anterior governo);
iv. a pobreza extrema da maioria da população como um ‘facto incontornável’ que nos empenhámos em ignorar, acreditando que caminhávamos para o ideal de uma sociedade mais coesa e baseada na igualdade de oportunidades, quando na realidade só caminhávamos rumo ao abismo;
v. as políticas públicas de educação, formação, qualificação enquanto ‘manigância’ para mascarar a realidade de uma população vocacionada para a lavoura e o ensino profissionalizante;
vi. as novas tecnologias de informação e comunicação, o acesso a computadores generalizado e à banda larga, como uma simples forma de deslumbrar gerações perdidas à partida e dar a ganhar a empresas de amigos;
vii. os salários demasiado elevados que aniquilam a nossa competitividade;
viii. a necessidade absoluta de cortar e reformar para garantir a defesa do Estado social;
ix. a crónica do malandro, mau aluno europeu;
x. Portugal não é a Grécia. É provavelmente a única afirmação verdadeira no meio de todas estas falácias. Nós não somos a Grécia. A Grécia era exemplo corriqueiro quando se falava de estatísticas. 80% da população activa grega era funcionária pública, o que lhe permitia ter uma espécie de rendimento mínimo garantido e contar com um segundo emprego para equilibrar as contas.
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